sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sementes


Esta instalação tem como objetivo mostrar a nossa fragilidade e ao mesmo tempo a nossa capacidade de renascer.
Nesta época de desesperança, passamos a falar de tragédias e a imaginar atentados; passamos a ter medo de perder o emprego e esquecemos de nos aprimorar para mante-lo; passamos a olhar o ser humano e não gostar do que vemos.



O ser humano só evolui quando algo de grandes proporções acontece e de tempos em tempos ele é acordado com algum grande choque.
















Hobbes (1588-1679) salientou que “o homem vive num estado contínuo de medo, sob o risco de uma morte violenta, pois tem apenas seu desejo e seu instinto para guiá-lo... Para ter uma prova não precisamos mais do que examinar a natureza egoísta e instintiva das crianças, quando ainda não foram domadas pela civilização.”















Os seres humanos só se tornam verdadeiramente “humanos na medida em que imitam o comportamento dos adultos e se deixam arrancar da animalidade instintiva em que nascem. Educação (do latim ex-duco) é mesmo o ato de conduzir o homem para fora da animalidade.

No que se refere a sua evolução, o ser humano está ainda na infância, longe de ser capaz de se conhecer.
Devemos conscientizar que, individualmente, temos de evoluir (florescer) para fora desse esquife que é a nossa limitação e conformismo.

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EX IT

O trabalho é um memorial aos mortos e a uma celebração da potência da natureza em se renovar. Na tradução normal da palavra os meios “partem” ou “abertura com que algo sai de um lugar”. Em ex (1997) Yoko Ono desenvolve uma reflexão direta na condição humana, sua fragilidade existencial e no resultado incerto de nossas esperanças após o drama da morte. Yoko Ono escreveu na indicação do artista que ex é vida como uma continuação. A instalação consiste em cem caixões de madeira para homens, mulheres, e crianças, com uma árvore que cresce para fora de cada. Há 60 caixões para homens, 30 para mulheres e 10 para crianças. De acordo com instruções de Yoko Ono os caixões são robustos e simples. Uma árvore cresce de cada um dos caixões, da abertura onde você pode geralmente encontrar a cabeça dos mortos. Esta é uma visão muito dramática da morte e do renascimento, a escuridão interagindo com a luz.
A esperança é um dos temas básicos na arte de Yoko Ono. As árvores que crescem com a potência surpreendente da vida representam o desejo para o futuro e o conforto no evento da perda. Há uma vida após a morte, de uma forma ou de outra. A idéia dá o conforto e ajuda a compreender a própria vida. A instalação é ao mesmo tempo comovente e perturbadora; ao mesmo tempo alegre e triste; igualmente conforta e assusta.

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Textos de apoio:

Há um tempo para tudo debaixo do céu. Um tempo de nascer e um tempo de morrer: de plantar e de arrancar a planta; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de falar - e tempo de calar." Eclesiastes

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Jalaluddin Rumi escreveu há 700 anos um poema que inspirou vários poetas contemporâneos: “Morri como mineral e me transformei em planta; morri como planta e nasci como animal; morri como animal e vi que era homem. Por que teria algo a temer? Nunca perdi nada por morrer. Mais uma vez irei morrer como homem,... Tudo que não é Deus morre.”
Assim como a luz da lua é refletida de volta para o sol, nós ouvimos o chamado para voltar para casa. Quando a luz volta para sua fonte original, ela não leva nada do que iluminou.

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O tema morte interior como caminho para o nascimento espiritual está presente em quase todas as tradições. “É morrendo que se nasce para a vida eterna”, ensinou São Francisco de Assis.





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“A força da verdade é irresistível quando se expressa em palavras simples. (...) O mundo passa por um renascimento cultural e espiritual mais poderoso do que qualquer revolução já ocorrida na história da humanidade...
Diz um antigo provérbio árabe que ‘as arvores altas só resistem à tempestade quando tem raízes profundas.’ Para mim, a experiência humana na Terra é como uma destas arvores fortes.
As ideologias religiosas e políticas do século 19 estão sendo levadas pelo vento da tempestade, enquanto se agarram inutilmente a seus dogmas imutáveis. Ao mesmo tempo as mais diversas tradições de sabedoria revivem e rebrotam como folhas novas de uma arvore centenária. Este renascimento é irresistível – e despretensioso. Quem poderia impedir o nascer do sol? ...”
Carlos Cardoso Aveline

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